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16 outubro, 2012

A Lenda de Vénus - Olímpio A. Alegre Pinto

O Nascimento de Vênus, de Adolphe-William Bouguereau (1879)

Marte, cansado da Guerra, do Sofrimento e da Morte, desceu a
Montanha... - Crua, Agreste, Seca, Deserta... - a da dureza da rocha
mais dura, da pedra nua... - a da Crueldade dos homens da Terra!

Na Planície, pousou o Escudo partido, e descansou a fera Lança de
sangue coberta... à sombra suave da Árvore Sagrada... - a da Luz
suplicante, doce, bruxuleante...

Olhou para o Sol, hesitante, quase perdido... mas sua Mente e seu
Corpo seguiram o seu Rumo - descente, sempre para Ocidente...

Mil dias passaram... até que, seus pés, ensanguentados, sofridos,
marcados pelas agruras do caminho, pisaram e descansaram, por fim, em
areias douradas, macias, cálidas...- para além do fim da Terra
Deserta, Crua e Fria, - as areias do Início do Mar... do Princípio da
Vida...

Lá! - onde existe o Ar puro, ausente do bafo pútrido da Maldade do
homem... Ali! - onde se sente o aroma fresco, o cheiro intenso, o
sabor, o perfume... a Visão do Horizonte sem fim... o do Mar Azul, do
Mar Transparente - o do Verde Límpido da Pura Água Marinha... a do Mar
Bendito... a do Mar Infinito! ... o do longínquo Oceano da Paz!

Ele, o deus da Guerra, dorido, querendo memória apagar, pediu a
Júpiter... e... sim! - emprestou ao Sol Poente as cores mais quentes,
as mais íntimas, as permanentes, as mais sofridas, ... - as do Fogo
Fundente... - as do fundo da sua Alma! - triste, cansada, partida... a
do Espírito sofrente, pungente...

Ele, o Guerreiro Indomável!, pediu, soluçou!, humilde!, ao Sol... um
Raio de Luz, um Sinal de Perdão... o Condão de um descanso... de uma
Bênção, de uma Contrição...

A Lua, a Filha dileta do Astro Rei, ouviu e sentiu... e, por seu Pai
agraciada, condoída... por si... e por mais de mil anos... - em suave
carinho, acariciou e sarou, com seus Raios de Prata, o Sono, os
Sonhos, e as Feridas... do deus Guerreiro... e do seu Destino - o mais
Heróico, sim!... mas... em muito, o mais Fatal!

Um dia, de madrugada, ao Sol nascer, um Raio de Luz, branquíssimo,
fulgentíssimo, fendeu os olhos entreabertos de Marte... acordou a
dormente, a já mais serena, quase fechada, negra pupila - gravando,
num momento, e para sempre, em seus Olhos e em seu Coração, - de
Leão!, - ainda fero, ainda selvagem... - a mais Bela miragem! - a
Belíssima Imagem! - a de Vénus Princesa - saindo, sorrindo, da espuma
alvíssima das ondas... em seu Corpo molhado, brilhante, dourado... de
Beleza sagrado! ...

Uma Luz intensa - um relâmpago!... e um Vento súbito, vindo do Mar, em
turbilhão, envolveu Marte e Vénus abraçados, subiu para além das
Nuvens, e... suavemente... pousou-os às Portas do Paraíso.


O.A.A.P.
2012

13 setembro, 2012

Fogo - Olímpio A. Alegre Pinto

                                                           


Viver...

Não é estar
Nem saber!

É arder!

E nada arde
Sem que alguma coisa se queime
E sem que
Da própria Vida...
Algo se consuma.


O.A.A.P.
Jul2012

 (imagem de "imotion imagens")


04 setembro, 2012

A um Pai...E a um Filho - Olímpio A.Alegre Pinto




A meu Pai e a meu Filho.

Era um Pêndulo! ... Ausente de apoio, suspenso no vazio infinito do
inter-estelar. Era atípico - oscilava sem período, por vezes vibrava,
em grandes amplitudes, entre a Sinuosidade da Filosofia e a
Verticalidade da Geometria. Quedava-se, um quanto, na insondável
Música da Poesia. No Espaço sem fim, não via as estrelas, e a
voracidade do Tempo não lhe permitia o que mais almejava - ser como a
Luz... e encontrá-las, por fim... e para sempre!... mesmo secando a
Curva do Espaço e vencendo o tempo do Tempo.

Sofrido, sublimava o isolamento e a ânsia aproximando-se do Planeta
Azul, tentando uma resposta que iluminasse a escura vastidão da
Existência à sua volta. Era persistente - procurava com denodo, nunca
desistia, mas... jamais encontrara. ...
Até que, um dia, no extremo cansado, quase dormente, viu o Sol brilhar
no horizonte - pensou que mais um dia despontava...
mas não! - o dia acabara e o ocaso incendiara-se. ...
A custo, pôs-se de pé, e, na vertical, solene, brilho no olhar, saudou
o Sol Poente ... ajoelhou-se devagar, e mais lentamente se deitou, de
lado, e, nos olhos cansados, no Coração tremente, recebeu a homenagem
do último raio de Luz, do Sol Poente.
A última memória mostrou-lhe toda a vida - parando, em sorriso quente,
em seus Amigos e em seus Amores, a quem afagou...
Fechou os olhos... e adormeceu para Sempre.

Ainda hoje, nas noites mais escuras e solitárias, aparece por vezes,
no Firmamento, uma estranha Constelação - é como um
Falcão - Voa ... e desaparece para além da imaginação.


Olímpio António Alegre Pinto

Idos de Julho... de 2012.


(Imagem retirada da net)