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05 novembro, 2013

Metades de um todo



É como se precisasse beber toda a chuva,
para acender a claridade dos ombros.
Apagar estrelas com os pés descalços, para
acordar o fogo adormecido.

Os sonhos enchem os espaços vazios, entre
as nuvens das palavras. Morre um, chora a nuvem.
Na extremidade do que morre nasce outro e a dispersa.
Preciso do que morre, para regar o que nasce.

Por mais que me vista de metade, não é mais que
um disfarce a cobrir um corpo inteiro.
Como podia eu ser a metade de outro, se eu própria
já sou duas? Que metade lhe daria?

Sou saudade, do que já foi: memória que arrasto até
à outra metade, que descobre o que ainda será.
Sou azul. Um azul de outro azul, a luzir em cada
metade. E talvez cada metade, se divida em mais duas.

Amar é um peregrino a caminhar no deserto.
Uma chegada ao paraíso de um oásis, onde nunca
sabemos ficar. Uma exigência constante, de ter
apenas uma metade do outro a morar cá dentro, por
nunca o sabermos aceitar por inteiro.

Sónia M

03 outubro, 2013

...espontâneo...



A espontaneidade deve fazer parte da vida - ou deveria - de cada um de nós. A infelicidade, a angustia, chega-nos sempre pela mão que reprime. Quantos tropeços se faria na felicidade, ao longo do dia, se todos os nossos melhores ímpetos, fossem colocados em prática, mal os sentimos? Aprecio um ato espontâneo. É como se de repente, alguém derramasse uma cor garrida, num lugar de cores mórbidas.

Sónia M

15 setembro, 2013

Entre bermas



Abres um olho e o dia parece um longo caminho, bem iluminado,
quando abres o outro já o caminho vai a meio. 
Hoje sinto frio, nesta berma por onde avanço, para que o dia não 
me atropele. Tive apenas tempo de vestir um velho casaco, só agora 
reparo que me fica curto nos abraços, já não apertam. Olho de relance 
para a outra berma e reparo num velho berlinde, a espreitar 
por entre as giestas. É meu, perdi-me dele há tantos caminhos atrás,
que mal o recordava. Galgo o caminho até à outra berma e recupero 
o berlinde. Parece mais pequeno do que me lembrava, cabe no bolso 
deste casaco, onde os meus dedos já não entram. Olha! De repente 
sou pequena, tão pequena que já não me sei. Mergulho no dia, como 
quem mergulha num poema. Num mundo habitado só por poetas, 
é poesia que ouço declamar nas ruas. Fala-se de amor em todas as 
esquinas e de cada boca se liberta um sorriso, que fica a 
pairar no ar, como um pássaro vistoso.
Ah!!! Não me digam que ainda sonho. Acho que hoje prefiro caminhar
deste lado e encharcar-me de vida, aos olhos da inocência.

Sónia M

Foto: João Carvalho
http://saltapocinha.wordpress.com/

11 setembro, 2013

Grão de areia



São de sal os dedos que te escrevem 
nos grãos de areia.
Planto o poema na orla da praia
e espero que enchas a maré e o engulas.

Não há distâncias nem ausências.
Há antes um mar que nos une
na hora mágica do dia
quando os deuses brincam com as cores do mundo
como um presente que nos enche os olhos
para nos lembrar
que nenhuma beleza nos cabe nas mãos...

Sónia M

Foto: João Carvalho
http://saltapocinha.wordpress.com//