É como se precisasse
beber toda a chuva,
para acender a
claridade dos ombros.
Apagar estrelas com
os pés descalços, para
acordar o fogo
adormecido.
Os sonhos enchem os
espaços vazios, entre
as nuvens das
palavras. Morre um, chora a nuvem.
Na extremidade do
que morre nasce outro e a dispersa.
Preciso do que
morre, para regar o que nasce.
Por mais que me
vista de metade, não é mais que
um disfarce a cobrir
um corpo inteiro.
Como podia eu ser a
metade de outro, se eu própria
já sou duas? Que
metade lhe daria?
Sou saudade, do que
já foi: memória que arrasto até
à outra metade, que
descobre o que ainda será.
Sou azul. Um azul de
outro azul, a luzir em cada
metade. E talvez
cada metade, se divida em mais duas.
Amar é um peregrino
a caminhar no deserto.
Uma chegada ao
paraíso de um oásis, onde nunca
sabemos ficar. Uma
exigência constante, de ter
apenas uma metade do
outro a morar cá dentro, por
nunca o sabermos
aceitar por inteiro.
Sónia M
Foto: João Carvalho
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