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30 dezembro, 2014

A Viagem




A estação era fria. As pessoas caminhavam lentamente, arrastando pesadas malas. Num repente, comecei a ouvir alaridos de espanto. Uma velha vestida de branco, havia subido à torre do relógio e sem que ninguém soubesse como, sentou-se no ponteiro das horas. Os viajantes, aos poucos, foram abandonando a bagagem, concentrando-se por baixo da torre. Tentavam convencê-la a que descesse e ela recusava, dizendo não ser ainda a hora. Alguém chamara a policia, que tardava. Todos os olhos estavam agora postos no ponteiro das horas, até os meus, e naquela mulher misteriosa. Envergava uma camisa de dormir branca de bordado inglês, que subira até às coxas. Uns longos cabelos, completamente brancos, tocavam-lhe nos joelhos. Com as duas mãos, segurava um saco de ráfia, que parecia cheio e ela olhava para cima, com um olhar doce, como se visse estrelas e não a estrutura metálica da estação.


Não sei quanto tempo passou. O relógio da estação deixou de marcar o tempo e o meu relógio de pulso também. Desconfio que nenhum relógio funcionava. Mais que uma vez, vi entre os que ali estavam, de olhares desorientados, perguntar a uns e outros as horas, sem que ninguém soubesse responder. Incrédula, deduzi que o tempo, obedecia aquela mulher que todos tomavam por suicida. Fiquei curiosa. O que haveria dentro daquele saco de ráfia? Como se se apercebesse da minha curiosidade, a mulher olhou-me. Apontou-me o dedo e pediu-me que chegasse mais perto. Obedeci. Abriu o saco e retirou lá de dentro uma mão cheia de ponteiros, dizendo que era chegada a hora. Com uma agilidade inesperada colocou-se de pé em cima do ponteiro, ficando assim, de costas viradas para o corpo do tempo, pisando o braço das horas. Ao mesmo tempo que uma nuvem de pombas brancas, invadia a estação, esvoaçando por cima da torre do relógio e da velha, que já nem me parecia tão velha. Voltou a olhar-me, esticando a mão cheia de ponteiros e disse-me
- Isto foi teu. Perdeste tantos, como o tanto que pesa a tua mala. Vê!
Lançou-os, como se atirasse comida às pombas, que os recolheram ainda no ar, e, desapareceram com eles no bico.


Voltou a enfiar a mão dentro do saco, retirando mais um punhado de ponteiros. Desta vez olhou para a mulher ao meu lado e repetiu a operação. Repetiu-a com todos os viajantes que a olhavam em silêncio, como se esperassem a sua vez. A cada vez que o fazia parecia perder idade. Quando o saco ficou vazio, não era mais que uma criança, de uns 7 ou 8 anos. Abriu os braços e saltou. Naquele momento, um anjo caía da torre do relógio. Antes que atingisse o chão, 7 pombas agarraram-na, elevaram-na e desapareceram com ela. Consternados, os viajantes olhavam-se entre si, tentando perceber, se o que haviam presenciado fora real, ou apenas uma alucinação partilhada, que ninguém quis explicar à policia, quando finalmente chegou. O único crime que encontrou, foi tempo perdido.


Ouviu-se a última chamada para o último comboio da noite. O relógio da torre marcava agora 5 minutos para a meia noite. Após 1 ou 2 minutos de despedidas, a estação ficou vazia e o comboio cheio. A vida prosseguiu como se nada. Quando peguei na minha mala, pela primeira vez percebi-lhe o peso. Hesitei, mas acabei por a deixar ali mesmo e entrei no comboio. Afinal, a ternura é leve e não precisa de bagagem. Nenhum tempo se perde ou envelhece com ela.Talvez seja isso, o único que me faz falta, nesta viagem.


Sónia M



A todos os amigos deste blogue, desejo que a vossa viagem seja leve.

Feliz Ano Novo.

Um forte abraço.

24 dezembro, 2014

Boas Festas!


Que haja Paz e aconchego. Um Feliz Natal a todos.

Perdoem-me as ausências e falta de comparência nos vossos espaços, que tanto estimo, mas, tem alturas em que a vida foge e nós corremos e corremos, apesar de não sairmos do mesmo sítio.
Mesmo ausente, não vos esqueço. Boas Festas, com Alegria e Poesia.

Um forte abraço.

19 dezembro, 2012

Quando as luzes se acendem

As ruas da cidade  enchem-se de cores.
Já se ouvem melodias em todas as esquinas. O ar enche-se dessa alegria fingida,
que escorre pelas mãos quentes, a afagar as cabeças frias da rua.
E as luzes...são tantas as luzes que acendem e apagam, num pisca pisca frenético,
como a própria vida.
Encandeiam os olhos fartos e enchem de esperança os tristes e vazios.
E os desejos...  Vamos todos pedir um.
É quando as luzes se acendem, que os desejos emergem do fundo da consciência humana.
Talvez que a chuva não molhe quem perdeu a casa e dorme na rua,
ou que as barrigas já não doam da fome, dos que agora vivem da caridade alheia.
Que haja um trabalho para cada par de mãos, ou que aqueles que engordam à custa
de tanta miséria repartam as suas gorduras por quem a tudo falta.
Que hipocrisia a minha!
Não deixo de pensar, que o mundo se está a tornar um lugar medonho para viver.
E que começa a ser difícil ser "gente", no meio das pessoas.
Acendo as luzes. Devo acender também as minhas. Talvez ao abrigo desta luz,
eu perceba se sou gente, pessoa, ou outra coisa qualquer, que não me apetece escrever.
Há realmente uma união nesta época.
Parece que todos aguardam a vinda de um salvador.

Sónia M

Nota:
Este ano, mais que em qualquer outro, penso no meu país, Portugal.
E é nele que penso, quando as luzes se acendem, mas também quando elas se apagam.

Desejo a todos um feliz e santo Natal.