
Foi há sessenta anos, mas lembro-me como se fosse hoje.
Naquele tempo o sábado era dia de banho por isso depois de brincar um pouco sentada na soleira da porta, a madrinha com a sua voz austera chamava-me do alto das escadas - menina venha tomar banho! Coisa que não me agradava nada pois eu tinha o cabelo longo aos canudos e já sabia que ia chorar para que me lavassem a cabeça e me penteassem, para de seguida voltar a fazer os caracóis um a um com fitinhas que ficariam assim até ao dia seguinte o que era muito incomodo durante a noite.
Conseguiam convencer-me prometendo que ficaria o resto da tarde a brincar com o meu brinquedo preferido que era um boneco de nome Pedrinho.
Tinha o meu tamanho e vestia as minhas roupas antigas.
Assim quando acabava a tortura era uma alegria, vestia, despia, dobrava e desdobrava pernas e braços conversando e ralhando como faziam comigo, ou seja, que tinha que tomar banho, senão o pai natal não descia na chaminé!
Em seguida sentei-o na banheira, porém de novo se fez ouvir a voz da madrinha: menina venha lanchar! Ao que eu obedecia cegamente, pois adorava os biscoitos da senhora Adélia que era a cozinheira da madrinha e me deixava molhar os biscoitos no leite adoçado com mel.
Até me esqueci do tempo e quando voltei de novo ao quarto de banho para continuar as brincadeiras com o Pedrinho vi que ele não estava lá e fiquei tão aflita que corri casa fora,
- O Pedrinho fugiu! O Pedrinho fugiu do banho mas eu não lhe lavei a cabeça!
Foi então que a madrinha e a senhora Adélia se começaram a rir e eu cada vez mais aflita perguntei - para onde foi ele? A madrinha então explicou-me - ele não foi a lado nenhum, acontece que era de papelão e desfez-se na água por isso é que a água está escura, agora já não há Pedrinho, morreu afogado e não chore se não ainda fica de castigo.
Elas não sabiam a tristeza que eu tinha dentro de mim, aquele boneco era bem mais do que isso para mim, era o irmão o pai e a mãe que eu não tinha, era a única coisa que eu chamava de todos quando brincava, era como se me tirassem de uma só vez a família toda e até hoje não esqueço aquele triste dia da minha infância.
Foi realmente um sonho desfeito... um sonho de papelão.
Vinadolfo
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De repente, como saídas do nada, encontramos pessoas assim.
Deixamos de falar com os dedos, que se passeiam pelo teclado do computador
e passamos a falar com o coração!
Do outro lado do ecrã, existe uma pessoa de carne e osso, às vezes, são pessoas tão grandes, em tudo, que nos apetece partilhá-las com o mundo inteiro!
Encontrei esta Senhora numa outra rede social, há uns dois anos atrás.
Entre brincadeiras e partilhas, nasceu uma grande amizade.
Tenham cuidado, é tão doce, meiga, verdadeira que contagia qualquer um.
Apesar de nunca termos estado frente a frente, abraça-me todos os dias e...suponho que seja essa presença que sempre me faz sentir, que eu hoje pretendo enaltecer e homenagear.
Obrigada Etelvina.
Este ano, não pretendo partir, sem antes gravar na minha pele... o seu abraço.
(Publicado na página de Facebook de Maria João correia, outra das pessoas de carne e osso, que por aqui encontrei...mas essa é outra história, para contar mais tarde!)
(Publicado na página de Facebook de Maria João correia, outra das pessoas de carne e osso, que por aqui encontrei...mas essa é outra história, para contar mais tarde!)