deixa que a luz te brilhe
brilha que a luz te olha
agarra-a de peito livre
livre a luz te colha
como quem arde e regressa,
para tornar a arder, assim galopa o mistério
- de veias abertas - no dorso do mundo
©Sónia Micaelo
deixa que a luz te brilhe
brilha que a luz te olha
agarra-a de peito livre
livre a luz te colha
como quem arde e regressa,
para tornar a arder, assim galopa o mistério
- de veias abertas - no dorso do mundo
©Sónia Micaelo
um pontinho de luz,
bem no centro de um charco de sede,
brilha - como quem sai de dentro da noite
para iluminar a cidade inteira.
©Sónia Micaelo
*
Fotografia, ©Nuno Clavinas
Arrasta a casa por todas as ruas.
Por todas as cidades
e países que atravesses.
Que nenhum nome te arda.
Sente os pés,
passo a passo,
o estômago,
a cintura,
peso e pedras.
O sinal de nascença,
a respiração do pai nos caminhos
sem eira.
As largas mãos do destino,
o relógio de cuco do avô nas paredes da memória
e o seu exército de criar ruínas.
Mantém aberta a porta, longe do medo
e as paredes caiadas de branco,
sem dobrar os joelhos.
Segura o beijo da mãe,
entre os dentes,
ao atravessar a ponte da ausência.
Que Que
nenhum nenhum
nome me arda. nome me esqueça.
Sente a tristeza
e canta a alegria.
Longe do medo, bem longe do medo.
Sou eu a casa:
fachada de sonho e inocência
e esta é agora a minha morada.
- Voltar ao princípio em cada fronteira.
©Sónia Micaelo
(Texto e imagem)
Uma flor num caminho à sorte.
Breve respiro da terra.
Saber-te, semente de sol clandestino.
Tudo tem um nome, eu sei.
Uma forma de dizer céu.
Mar. Sonho.
Banco de jardim. A tua mão.
Asa quebrada. Lágrima de pássaro.
Gritar o nome de todas as coisas,
sem ninguém que as oiça.
Saber falar da sede que aperta,
do desejo que mata.
Perfume de pétala caída, no chão
desta viagem sem chegada.
A Vida. E a Partida.
Mas o que sinto, meu bem,
rasteja no silêncio.
Um nímio silêncio sem cor nem tréguas.
Um quase adeus à palavra que salva,
numa boca colmada de beijos por dar.
© Sónia Micaelo
( Texto e imagem)
guarda-os todos
no mais fundo dos olhos
começa amanhã
que ainda há tempo!
agarra o primeiro
por entre o espanto das mãos
e diz-lhe o meu nome
fala-lhe de mim
como o pássaro azul
que guarda o mistério do sonho
até ao último raio de luz
© Sónia Micaelo
(texto e imagem)