Mostrar mensagens com a etiqueta Diogo Vaz Pinto. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Diogo Vaz Pinto. Mostrar todas as mensagens

07 fevereiro, 2014

.



Apaguei o cigarro na boca de uma flor.
O meu rádio, comovido, largou um soluço
e perdeu o que restava da pilha. Fiquei
sem o barulhinho que dava alívio na solidão.
Depois foi um grande nada e um mau bocado.
Então foi aumentado essa sílaba presa
pelas cigarras, coçando a perna da tarde.
Juntei-a à velha piada de um desses
pássaros anónimos, já sem graça.
O meu coração, no meio daquilo,
também batia intrigado. Aí, eu juro
que me veio a lembrança dos dias
iniciais, quando Deus gritou o seu nome
e cada animal decorou um pedaço.

Diogo Vaz Pinto
in O Bastardo


Imagem, © Łukasz Gliszczyński