No dia em que emudeceste a cidade
um sonho atormentou-me a noite
havia uma margem
onde uma frondosa árvore
em desespero
tentava abraçar o vento
e o vento passava e ria
intocável
um pássaro trazia a manhã à janela de um rio
onde tu banhavas o verbo
- ventre do poema
mais secreto e indomável
e a vida, meu bem
esse fogo
tão bendito quanto maldito
ia secando todas as águas...
trouxeste o tempo para dar de beber aos peixes
- esse quase nada onde quase tudo assenta -
e um muro de espelhos ergueu-se!
ao olhar o meu reflexo no muro
arranquei os olhos
para não voltar a ver-me
eu era o germe do silêncio
que chorava versos mudos
condenado a roer a memória mais funda
até que o verbo... já não doa.
Sónia M
gosto de poemas assim
ResponderEliminarque vão ao fundo do Verbo
e estilhaçam todos os sentidos...
beijo
E o verbo era o Ser. Ser amado que é razão de vida no dizer da poeta. A contradição do amor bem expressa em "esse fogo tão bendito como maldito".
ResponderEliminarMuito bem encadeadas as palavras; soltas no ritmo certo para que o fôlego fique em bom sossego.
Boa semana, Sónia
Dar de beber aos peixes
ResponderEliminarmetáfora genial
Bjs tantos
Boa tarde, tentava abraçar o vento, eu tento e abraço o belo poema.
ResponderEliminarAG
Venho cá nas expectativa de encontrar um novo post...mas voltarei!
ResponderEliminareu era o germe do silêncio
ResponderEliminarE com o silêncio comunivavas.
Felicidades
MANUEL
Estou a tentar visitar todos os seguidores do Peregrino E Servo, e verifiquei que eu estava a seguir sem foto, por motivo de uma acção do google, tive de voltar a seguir, com outra foto. Aproveito para deixar um fraterno abraço.
ResponderEliminarAntónio Jesus Batalha.
"Ando cansada do tempo.
ResponderEliminarDo tempo que passa"...
Mas a poeta faz o tempo
e a coragem.
Bj, Sónia.
Um poema que tem dono e destino. Um poema que ficou preso no muro de espelhos, que a metáfora construiu, para que alguém (o poeta que emudeceu uma cidade) não desse de beber aos peixes, que foram morrer nas margens do rio. Há sempre uma tragédia entre o amor e a morte, uma tragédia shakespearena, que se resolve neste belo e excelente poema.
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