23 setembro, 2015

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ÂNCORAS de RITA MENDES

Âncoras todas em redor.
Pedaços de rede, algas secas,
Madeira da que serviu para os barcos
Algumas moscas gordas.

Os meus pés no lodo do rio
E ainda o rio
Naquilo que é da saudade
Pelos canais.

Há de ser Outono agora
Que o frio tem âncoras
Que o Verão não tem.

Há de ser Outono que o sono se dorme mais seguido
E a gente precisa das mantas
E a gente precisa da gente
E a gente por precisar tem âncoras
Que o calor que é tremendo,
Não tem.

Quando solar a alma vai bem.
Nua entre as vagas
De culpa quase líquida
E memória em tez queimada.
Sacode os fiapos das redes
Não se avistam madeiras nem moscas.

E, no entanto,
E ainda,
O rio.

Cobre-me
De âncoras
E lodo morno até aos joelhos
E mais para cima.
Trabalha a madeira e pinta-a de uma cor coral
Ao meu tamanho.
Cobre-me.
Para que eu percorra o que vai
Entre margens.

--------------------------------Rita Mendes

Pintura, viktor zhmak

5 comentários:

  1. Que lindo Sónia!
    Adorei,não conhecia Rita Mendes.
    Bjs e uma Feliz Primavera.
    Carmen Lúcia.

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  2. Oiçam este poeta de tostão
    Que já prometeu e pediu uma mão
    Oiçam a palavra salgada de saliva
    Não tenho muito lugar, em ti, paixão


    Passei para te desejar uma radiosa semana

    Doce beijo

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