08 janeiro, 2014

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Não queria escrever-te.
As palavras permanecem mortas nesta folha de papel,
sem haver quem as declame ou as cante aos quatro ventos.

Tal como as folhas secas de outros outonos,
quando chega o inverno, que as varre até ao rio,
onde apodrecem e se afoga o que delas resta.

Nem sempre foi assim.
Houve um tempo em que as estações não nos atingiam,
passavam todas ao lado.

Aqui dentro era sempre primavera florida,
regada com a seiva que fluía dos nossos corpos.
Nunca admitimos a chegada das estações.
E porque nunca admitimos, existia apenas uma.

Éramos invencíveis!

Não te admito que o esqueças e muito menos
que baixes os braços. Não tenho mãos que cheguem
para afastar os temporais e do lado de cá, já pouco resta.

A solidão enfraquece-me tanto quanto a ti.
E o mundo pesa mais para quem está só.

Por isso hoje não queria escrever-te.
Sei que esta folha, mal me caia das mãos,
seguirá o curso das estações.
Deixando-nos a sós com o silêncio das árvores.

Sónia M

Imagem, © Pejac

15 comentários:

  1. mas faz bem escrever.
    e tu escreves muito bem, mesmo que sejam coisas menos alegres.
    um beijo

    :)

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  2. [meu coração não gosta
    quando se desarrumam suas certezas]


    ...dias melhores pra sempre!

    beij0

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  3. Não admitamos então, que se baixe os braços e se calem as vozes. Nunca.

    Beijos e mais beijos.

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  4. Mas as tuas palavras quebram esse silêncio e aqui a poesia não morreu :))

    Beijo

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  5. Tocou-me particularmente este texto.

    Beijinho, Sónia

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  6. Esa continua Florida y exuberante Primavera que se preveía siempre vergel y selva de aromas, ahora deja paso a esas hojas que sigue su curso en la corriente de las Estaciones, dejando de aromas de Nostalgia y Soledad; pero, también, por su condición esas hojas provocarán ese Milagro de Renovación de un Paisaje que, antes, se antojaba sólo Tormentas y Nubarrones...¡¡¡Precioso, como siempre, Sonia!!!
    Abraços e Beijos.

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  7. Belíssima a prosa poética que (apesar de tudo) nos aponta o caminho da Primavera.
    :)

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  8. Sonia,
    Embora as vezes as estações nos angustiem,
    todas elas passam. O silencio das arvores sempre é bom
    para ouvir.

    Muito lindo, Sonia

    Beijos

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  9. Oi Sónia,
    Não deixe a tristeza vencer nenhuma estação, pois elas têm vidas curtas e a sua longa e cheia de belas expectativas.
    Um beijo
    Lua Singular

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  10. Hola Sónia, buenas tardes,
    maravilloso escrito!
    me encantó sentir pasar las estaciones de largo...
    te diré más, por un momento percibí las flores de aquella primavera eterna =)

    Te deseo una fantástica noche
    un cálido abrazo

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  11. As árvores caem de pé, e não é porque querem, que o sonho de uma árvore é alcançar o Sol.
    Então sejamos árvores... (O cair das folhas é renovação).

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  12. Mas, o que é verdade é que a escrita liberta-nos... E tem a vantagem de não desgastar-se com a mudança das estações. Poderá ser sempre Inverno, Outono, Verão ou Primavera, conforme cada um pretenda. Eu sempre gostei do Inverno, porque é a estação em que posso mergulhar no nevoeiro, não para me esconder, mas sentir as suas carícias.

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  13. Haverá sempre alguém que declame o poema...
    Haverá sempre alguém que se encante nos labirintos do encantamento, atravessando o ”curso das estações”.

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