O céu desaba na rua indefesa. Chora o céu.
E em mim chove. A noite parece ser mais noite,
mais escura, quando chove.
Na mão seguro um caderno de capa
vermelho-sangue.
E foi com o sangue de alguma veia que
me rebentou
nos dedos, que dei vida a todas as páginas.
Sinto dizer que não deixarei muito,
a não ser este caderno: silêncios que me arderam
nos ossos, porque a vida queimava.
nos ossos, porque a vida queimava.
Onde as dores devoram o papel nicado e amarelecido,
mais que o tempo. O que deixo são uns quantos
momentos comovidos e alguma mágoa alvoraçada.
Um cálice cheio da melancolia que os meus olhos beberam.
Se o leres, promete que não sentirás pena.
É nas profundezas dos abismos que se equilibra a vida
e a noite se abre. Sei que é pouco. Muito pouco.
Julgamos sempre ser mais do que alguma vez fomos,
ou seremos.
Sónia M
(Notas de um diário, Abril 95)
momentos comovidos e alguma mágoa alvoraçada.
Um cálice cheio da melancolia que os meus olhos beberam.
Se o leres, promete que não sentirás pena.
É nas profundezas dos abismos que se equilibra a vida
e a noite se abre. Sei que é pouco. Muito pouco.
Julgamos sempre ser mais do que alguma vez fomos,
ou seremos.
Sónia M
(Notas de um diário, Abril 95)
"Julgamos sempre ser mais do que algumas vez fomos,
ResponderEliminarou seremos"
Lindo, Sónia. Um beijinho carregado de saudades...
Tenho andado completamente desnorteada, prometo visitas mais assíduas. Saudades muitas muitas. E não publique isto porque a lágrima escorre escorre e ia borrar os comentários (ou publique se quiser, sei lá)
ResponderEliminarMaria, também eu tenho andado muito ausente...
EliminarVisitas? Só quando apanho o tempo distraído e lhe roubo algum minuto. Olhe que o sacana não se distrai facilmente.
Saudades muitas tantas tantas e tantas...
Beijos e mais beijos.
Amei este texto, lindo e profundo em reflexões. Tenha uma feliz semana. Bjs
ResponderEliminarTanta dor!! Há tanto tempo!!
ResponderEliminarE lê-lo, é tão belo quanto doloroso!
BEIJO.
Forte e intenso como já nos acostumaste! ...Mas sem dúvida que é por vezes
ResponderEliminar"nas profundezas dos abismos que se equilibra a vida", e a dor tem de inevitavelmente
que ser expressa numa folha de papel a gotas de sangue , ou simplesmente numa lágrima
que não nos deixe sufocar na penumbra.
Poderemos julgar ser mais do alguma vez fomos ou seremos, mas também somos
tantas vezes muito mais do que julgamos. A questão da dimensão e do tal equilíbrio.
É a dor que possibilita os mais grandiosos poemas.
Parabéns, Sónia, é um gosto ler-te.
xx
minha querida vindo de si tudo é lindo, até o que faz doer. Quantos cadernos escrevemos sem tinta mas que só nós sabemos ler. Mais uma perola para juntar no meu guarda joias.
ResponderEliminarBoa noite Sónia, que poema tão belo! Uma pérola como diz a Etelvina!
ResponderEliminarEu não sinto pena, mas sim uma enorme, enorme admiração!
Beijinho carinhoso;.
Ailime
somos aquém de nós...
ResponderEliminarna profundeza dos abismos há sempre um húmus insuspeito de que a vida se alimenta
beijo
sempre muito belo o que escreves, mas achei este muito mais sofrido.
ResponderEliminardeixo um beijo terno
:)
Belo, mesmo que doloroso, filtrou sensibilidade . bjs.
ResponderEliminarUNA TRISTEZA HERMOSA!!
ResponderEliminarUN ABRAZO
Mas o que é ser mais?
ResponderEliminarCadinho RoCo
Para lá dos azuis
ResponderEliminarhá tanto mar