03 dezembro, 2013
A mulher do Vento
Um dia, enfiou as mãos na boca e puxou a garganta para fora.
Passou o dia a desatar nós. Caiam-lhe aos pés, as dores que ali se cravaram.
Servindo-se das unhas, raspou o calado, que separou cuidadosamente, da mescla
de sangue e lágrimas que lhe escorria pelos cotovelos. Depois, voltou a colocar a
garganta no sitio e atirou com o que dali arrancou para cima da mesa. Houve os que
perderam a fome, outros a sede, outros ainda, o sono. Depois disso nunca mais falou.
Esta é a história de uma mulher, que dizem ser tão antiga como a rua. Chamam-lhe a
mulher do Vento. Dizem, que desde esse dia, a sua voz é nada mais que um sopro leve,
que liberta das curvas do tempo e faz ouvir através de uma flauta. Sem se importar
com o que os outros dizem ou pensam, pois só a eles lhes pertence. Todos os dias,
à mesma hora, toca naquela esquina. Há os que passam e a chamam de louca.
Há os que param e escutam, sem entenderem. Há a criança que canta e a árvore
que estende os seus braços e lhe abraça a leveza. Mas só o Vento se demora no que
ouve, rodopia sobre a rua, assobiando a mesma melodia em cada janela, até que já
cansado a leva consigo, para a sua morada, que ninguém sabe onde fica.
E quando todos já dormem, a rua murmura o que o vento lhe trouxe... e a lua sorri.
Sónia M
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Delícia vir aqui ler tua criação perfeita, Sónia.
ResponderEliminarConjecturo que a mulher do vento, por vezes, deve vestir-se de sedução para causar tamanho fascínio.
Meu abraço!
Mulher do vento
ResponderEliminarPoema escrito
No pensamento
De Sónia, muito bonito!
Desejo para você
amiga Sónia um belo dia.
Um beijo
Eduardo.
Muito interessante essa historia.
ResponderEliminarEsses são os sussurros do vento que sopra leve.
Adorei amiga Sónia
bjs e obrigada da visita e comentário.
Carmen Lúcia-mamymilu
Oi Sónia,
ResponderEliminarLindo conto muito inspirado.
Você é especial
Beijos
Lua Singular
Simplesmente fantástica a História do vento que na minha cabeça sempre foi um personagem masculino. Gostei mesmo muito.
ResponderEliminarBeijo enorme, Sónia (dois dias sem aqui vir e parece que aqui não venho há mais de um ano)
Privilégio ler-te querida amiga!
ResponderEliminarBeijinhos
Maria
Bela história...
ResponderEliminarO vento e seus mistérios aguçam a nossa curiosidade.
Um beijo,
Suzana
A Mulher do Vento: poderia ter sido a história de uma lenda. Mas é um apontamento ficcional com imagens fortes e de grande significado, como aquela da mulher puxar a garganta para fora, expondo impudicamente o que de lá tirou, em cima de uma mesa, e tendo, depois, perdido a voz, para sempre. Ficou na sua boca a melodia sinuosa do vento, a marcar-lhe o tempo e a existência.
ResponderEliminarDama, como gosto da calmaria das tuas palavras...
ResponderEliminarSopro-te!
le texte est très beau et ta photo aussi !
ResponderEliminarSenti a brisa desse vento...
ResponderEliminarbeijinhos
Eu conheço esta senhora
ResponderEliminarBjs tantos
prosa poética de excelente qualidade.
ResponderEliminarcada texto é melhor que o anterior.
muito belo.
beijos
:)