Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.
Ninguém anda mais depressa do que as pernas que tem.
Se onde quero estar é longe, não estou lá num momento.
Sim: existo dentro do meu corpo.
Não trago o sol nem a lua na algibeira.
Não quero conquistar mundos porque dormi mal,
Nem almoçar o mundo por causa do estômago.
Indiferente?
Não: filho da terra, que se der um salto, está em falso,
Um momento no ar que não é para nós,
E só contente quando os pés lhe batem outra vez na terra,
Traz! na realidade que não falta!
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salte por cima da sombra.
Não; não tenho pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só aonde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E somos vadios do nosso corpo.
E estamos sempre fora dele porque estamos aqui.
Alberto Caeiro
Imagem, Ingrid Endel
Aberto Caeiro...privilégio ...logo pela manhã...obrigada Sónia! Não tenhamos pressa para não perder nada!
ResponderEliminarBeijinhos
Maria
Já dizia o pensador anónimo que "a pressa é inimiga da perfeição".
ResponderEliminarSó podemos ter a pressa das nossas pernas e há muito para ser saboreado. Gosto sempre de Alberto Caeiro
ResponderEliminarBeijinho
Vagarosos instantes
ResponderEliminarBelíssimo tudo
Oi Sónia
ResponderEliminarLindo texto
Temos que chegar até onde conseguimos, se tentarmos burlar nossas forças, machucaremos.
Um beijo
Lua Singular
ResponderEliminarMas eu tenho. Pressa, porque a noite (que está sempre lá onde sabemos poder tocar-lhe com a mão) é tempo que foge.
Beijo
Laura