25 outubro, 2012

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

No Amor Começa-se Sempre a Zero

Fazer um registo de propriedade é chato e difícil mas fazer uma declaração de amor ainda é pior. Ninguém sabe como. Não há minuta. Não há sequer um despachante ao qual o premente assunto se possa entregar. As declarações de amor têm de ser feitas pelo próprio. A experiência não serve de nada — por muitas declarações que já se tenham feito, cada uma é completamente diferente das anteriores. No amor, aliás, a experiência só demonstra uma coisa: que não tem nada que estar a demonstrar coisíssima nenhuma. É verdade — começa-se sempre do zero. Cada vez que uma pessoa se apaixona, regressa à suprema inocência, inépcia e barbárie da puberdade. Sobem-nos as bainhas das calças nas pernas e quando damos por nós estamos de calções. A experiência não serve de nada na luta contra o fogo do amor. Imaginem-se duas pessoas apanhadas no meio de um incêndio, sem poderem fugir, e veja-se o sentido que faria uma delas virar-se para a outra e dizer: «Ouve lá, tu que tens experiência de queimaduras do primeiro grau...»

Pode ter-se sessenta anos. Mas no dia em que o peito sacode com as aurículas a brincar aos carrinhos-de-choque com os ventrículos, Deus Nosso Senhor carrega no grande botão «CLEAR» que mandou pôr na consola consoladora dos nossos corações. Esquece-se tudo. Que garfo usar com o peixe. Que flores comprar. Que palavras dizer. Que gravata com que raio de casaco hei-de usar? Sabe-se nada. Nicles.
Olha-se para as mãos e parece uma cena de transformação dum filme de lobisomens — de onde outrora havia aqueles dedos tão ágeis e pianistas, brotam dez abortos de polegares. E o vinho entorna-se só de pensar nisso. E as solas dos sapatos passam a atrair magneticamente todos os excrementos caninos da cidade. E a voz que era toda FM Estéreo da Comercial quando vai para dizer «Gosto muito de ti» fica repentinamente Abelha Maia.
Tenha-se 17 ou 71 anos, regressa-se automaticamente aos 13 — à terrível idade do Clearasil e das sensações como que de absorção. Quem se apaixona dá mesmo saltos no ar e diz «Uau!» quando o Pai deixa usar a pasta de dentes dele. Qual «ternura dos quarenta», qual bota da tropa cheia de minhocas! O amor é sempre uma anormalidade que provoca graves atrasos mentais.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

28 comentários:

  1. Do zero começa o amor
    Da semente nasce a planta
    Na planta nasce a flor
    Seu espaço me encanta.

    Seu blog, não é engano
    Aqui me sinto à vontade
    Porque sou alentejano
    Gosto de viver em liberdade.

    Numa casa alentejana
    Há alegria e tristeza
    Nela uma magana
    Linda moça portuguesa!

    Caiada de branco ela é
    Por dentro e por fora
    Nela habita a Maria e o Zé
    Com eles a felicidade mora!

    Boa quinta-feira para você,
    amiga Sónia.
    Um bjo
    Eduardo.





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    1. O Eduardo é que encanta, sempre que nesta "casa" entra!!
      Um beijo :)

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  2. Um alentejano
    A contar uma anedota
    Pergunta ao amigo transmontano
    Se ele sabe o que é a bolota!
    Ele pensa primeiro
    E responde, é o fruto do castanheiro!

    Com o devido respeito
    Amigos transmontanos
    Desculpem o defeito
    Dos meus enganos!

    Vou ficar por aqui
    Antes de ser condenado
    No Alentejo nasci
    Próximo do Rio Sado!

    Para a paisagem olhei
    E vi lindas moçoilas
    A olhar parado fiquei
    Lá no campo as papoilas!

    Beijinho
    Eduardo.





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    1. Temos mesmo que parar, amigo Eduardo :)
      A conversa ainda entorta e temos o caldo entornado!!
      (Estou brincando, só brincando!)

      Um forte abraço :)

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  3. Não é que o tipo tem toda a razão!!! :)
    Caraças!!

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  4. "o amor é sempre uma anormalidade que provoca graves atrasos mentais", tenho que concordar :))

    Beijinhos

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    1. Concordamos as duas, Rita!
      Ultimamente sinto-me muito anormal!! :) :)

      Beijinhos

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  5. Mas bem que gostamos desta anormalidade :))
    Beijinho, querida!

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  6. Uma noite linda pra ti minha querida amiga,,,paz e carinho sempre...com flores e beijos...bela sexta feira também...

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  7. Esa Pasión que hace volar nuestros sentimientos y nuestra Imaginación.
    Un abrazo.

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    1. Sim Pedro! O amor tem asas, quando em nós entra, tudo voa, principalmente a imaginação! :)
      Um abraço

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  8. Apaixonar-se é muito bom. Amar mostra a vida por um outro ângulo, bem mais prática, mais fácil, mais leve e sem problemas...onde tudo são alegrias!! Deixo um abraço bem apertadinho no seu coração. Beijos!!

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  9. Mis buenos pensamientos en el fin de semana, querido amigo. Con respeto. Un post muy bonito, como cada vez. Hay muchas maneras en que podemos hablar y escribir sobre el amor.

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  10. Tudo na vida começa do zero e todos os dias se iniciam nas zero horas.
    Depois é um acontecer constante de coisas que nos farão mais felizes que podemos alterar ou aperfeiçoar.
    Penso em tudo isto como o milagre de viver...

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  11. Ai…ai…chato, chato, chato é quando se tem de acrescentar pano à bainha das calças…por esfolar demasiadamente os joelhos, não há Betadine que aguente! Não há “Enter” da consola que console! Nem Pipi (a das meias altas) que não se esfole! Enfim, foi o que me saiu de momento…para não dizer mais disparates.
    Beijo grande Sónia e bom fim de semana que está aí novamente.

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    1. :) :) :) Os seus disparates são sempre bem vindos!!
      Beijo enorme e bom fim de semana também para si :)

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  12. Bem!!!...

    Ouve lá! Ó alentejano!!
    Por o seres, estás desculpado.
    Mas... Tem cuidado!!

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    1. Ai senhores! Que se juntou o transmontano à festa :) :)

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