28 agosto, 2021

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 Arrasta a casa por todas as ruas.

Por todas as cidades  

e países que atravesses.   


Que nenhum nome te arda. 


Sente os pés, 

passo a passo, 

o estômago, 

a cintura,

peso e pedras. 

O sinal de nascença, 

a respiração do pai nos caminhos 

sem eira. 

As largas mãos do destino,

o relógio de cuco do avô nas paredes da memória 

e o seu exército de criar ruínas. 


Mantém aberta a porta, longe do medo

e as paredes  caiadas de branco, 

sem  dobrar os joelhos.


Segura o beijo da mãe,

entre os dentes,

ao atravessar a ponte da ausência.


Que                              Que

nenhum                       nenhum

nome me arda.           nome me esqueça. 


Sente a tristeza 

e canta a alegria.

Longe do medo, bem longe do medo.

Sou eu a casa:

fachada de sonho e inocência

e esta é agora a minha morada.


- Voltar ao princípio em cada fronteira.


©Sónia Micaelo

(Texto e imagem)

7 comentários:

  1. Poema lindissimo que muito gostei de ler.

    Nota: A letra é muito pequenina o que dificulta (e muito) a leitura. Não pode aumentar um pouquito o seu tamanho?.
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    Feliz fim-de-semana
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  2. Um belo poema, que faz uma acusação pesada e demolidora.

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  3. Subscrevo a proposta do " R y k @ r d o ". Aqui, não é necessário poupar papel.

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  4. Essa casa é o exilio quando só se passa se não houver outro caminho!
    Um belo canto, Sónia! Acordas as palavras com um vigor ímpar!
    Deixo-te um abraço,

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  5. Muito belo Sónia!
    Ler-te é um doce fascínio!...

    Um beijo.

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  6. Migrantes sem destino
    e uma casa perdida pelo caminho.

    "Que Que

    nenhum nenhum

    nome me arda. nome me

    esqueça."

    Belo (a pensar que poderia ser eu a saltar fronteiras, ou ... não)
    Um abraço, Sónia.

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