02 dezembro, 2020

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um fio 

de demência 

que aperta o rosto da noite


um cansaço 

sem sono

uma dor 

sem clemência 

um vazio 

sem parede

num peito 

sem dono

a porta fechada


um sexo 

ofegante

uma leveza sem pássaro 

uma nuvem 

indiferente

uma garganta 

sem choro

uma folha 

rasgada


um verso 

doído 

um sorriso 

sem gente

uma boca 

um abismo

um poema sem nada...


              Sónia Micaelo 


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Imagem, Adri Luna

5 comentários:

  1. Nada dentro do nada!
    Sónia, O poeta, de rosto cansado enfrenta a sentença das pequenas horas, sem memória nem futuro. A sua pena é uma luz gelada que fixa os recortes da vertigem.
    Esse é o destino do poeta!
    O teu poema é lindo e e traduz exatamente esse poema sem nada!

    Um bom fim de semana para ti.
    Beijos!

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  2. Talvez falte, neste belo poema, de um profundo desencanto, o apelo à "nostalgia de futuros".
    Alguém disse, e com razão, que só se pode viver, amando. E todos os poetas sabem isto, mesmo quando o amor dói.

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  3. as sombras frias da noite
    descem abruptas e querem que o poema deixe de brilhar. A ele levantou a minha pequena chama esperando ocupar o vazio, em vez do ar. Um labirinto de
    cheio de beleza à espera duma saída.
    Excelente.
    Um beijo, Sónia M

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