05 dezembro, 2013
Numa terra sem chão, voa!
Tardou-me a existência.
Puxava-me para dentro o sossego do nada, que era tudo o que tinha.
A ausência dos sons da linguagem, fez-me crer que flutuava no ventre
de minha mãe.Tinha todo o corpo, por dentro de um silêncio limpo e claro
e eu tardava, em querer deixar aquele lugar, sem sons, sem fala e sem tempo.
Cada gesto era medido por eternidades, fundiam-se uns nos outros,
por dentro de um ar,que havia entre as nuvens e a minha cabeça,
a existir para lá de qualquer outra existência.
E eu tardava, ou tardava-me...
Algo me fazia saber, que não havia espaço para a minha chegada.
Que o chão gemia do peso das preces, que do tão pesadas,
já não se elevavam aos céus. Que até as crianças as pisavam,
ou jogavam à bola com elas, deixando as mães aflitas.
E eu tardava, ou tardava-me.
Podia tanto ser o inicio da vida, como o fim.
Quantas vezes durante o sono, nos aconchegamos
nas mãos côncavas da morte?
Até que um pensamento nos empurra de
encontro ao orvalho da manhã.
Hoje tardei tanto quanto pude, a deixar o sossego do nada.
Tardava-me a existência, ou eu tardei em querê-la.
Cheguei à janela da manhã e olhei para o chão sem espaço.
Um pássaro pousou-me nos dedos e quebrou-me o silêncio do corpo.
Quis sussurrar-me um segredo no peito, para que bem o ouvisse e partiu.
"Numa terra sem chão, voa!", disse.
E eu...segui-o.
Sónia M
Imagem, © Jerry Uelsmann
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Sónia,
ResponderEliminarO remate, "numa terra sem chão, voa!", é absolutamente fantástico.
Parabéns pela inspirada tirada!
Beijo :)
Lindo texto amiga Sónia!
ResponderEliminarPalavras de muita reflexão.
Acreditar que flutuava no ventre da mãe.
Muito lindo.
bjs amiga e obrigada pelo comentário
Carmen Lúcia-mamymilu
Nas mãos tem o ninho
ResponderEliminarNuma terra sem chão
Voa como o passarinho
Sónia, na sua imaginação!
Uma poetisa assim
Nascida na terra alentejana
Como a Sónia havia outra sim
De Vila Viçosa, Florbela Espanca!
Merece muito carinho
Com o devido respeito um abraço
E também um beijinho!
Do Eduardo.
Oi Sónia,
ResponderEliminarO meu chão está sem nada, o vazio da dor incomoda e dói.
Queria ser um feto quentinho dentro do ventre de minha mãe, mas nasci para ser o vazio do nada.
Linda a sua reflexão
Beijos
Lua Singular
Passei para deixar um beijo
ResponderEliminarPassei para lhe deixar os bons dias. E ainda ando aqui a voar atrás de si para a agarrar e dar-lhe uma valente beijoca :)
ResponderEliminarGostei muito muito
Sonia in the sky with diamonds?
ResponderEliminarGreetings from the" cyber miky way"
Beijos
Willy
ResponderEliminarQuando voar é o último reduto, que se voe para que se não tarde.
Beijinho
Hola Sonia, buenas tardes,
ResponderEliminarmuy linda composición,
hoy me dejé llevar por lo profundo del mensaje.
Te deseo un excelente fin de semana
un beso
Vamos dar as mãos e fazer da Internet o nosso meio de união,
ResponderEliminarpara transformar este velho mundo num lugar
onde todos possam usufruir do milagre da vida.
Que nesse Natal todos nós possamos levar
palavras de amor carinho e esperança.
Devemos fazer isso durante o ano inteiro,
mais muitas vezes não é isso , que acontece.
A vida é corrida demais muitas vezes parece,
que somos pessoas frias com o coração
endurecidos.
Hoje nem sempre temos tempo de mostrar
o quanto amamos nossas amigas e amigos
isso não justifica nossa ausência ,
mais todos sabemos o quanto é corrida nossa luta no dia a dia.
Nesse Natal desejo de coração muita união
entre sua família e amigos.
Como é bom a existência do Natal
Como é maravilhosa a festa do nascimento de Jesus.
Da minha postagem leve aquilo , que mais gostar.
Um abraço carinhoso cheio de amor e saudades .
Beijos no coração ..Evanir.
Très joli post!
ResponderEliminarMerci de ta visite et de tes gentils commentaires sur mes pages, Merci.
Très bon week-end.
Cath.
Oi Sônia,
ResponderEliminarSeu texto é belíssimo.
"Numa terra sem chão, voa!"--Lindo isso. Tão significativo!
A imagem é um show.
Beijo.
ameiii :) lindo texto.. beijinhos doces e um obtimo fim de semanaa
ResponderEliminarLindo! Ventre... Nossa primeira e verdadeira morada. Aconchego, deixado por uma terra sem chão...
ResponderEliminarVentre, que ansiamos dentro da nossa solidão.
Tenha um final de semana de muito aconchego!
Grande beijo
Muita classe e romantismo!
ResponderEliminarAdorei!
Beijinho Sónia!
Que texto lindo, Soninha. A imagem esta divina.
ResponderEliminarE onde nos falta o chão, podemos voar sim.
Sempre tem o tempo certo para o voo ser perfeito, por isso
adiamos, precisamos estar preparadas.
Beijos
Oi Sónia
ResponderEliminarPassando para lhe desejar um bom fim semana com muita sáude e amor
Beijos
Lua Singular
MUY LINDO TEMA.
ResponderEliminarBESOS
Você nos leva ao mundo do espírito, aos esconderijos que só a alma conhece...será o limbo? será o paraíso? seja onde for, você nos leva até lá em asas poéticas de beleza inefável...
ResponderEliminarUm feliz domingo, querida Sónia!
Bíndi e Ghost
Un Texto Mágico, lleno de belleza intrínseca e interior.
ResponderEliminarPrecioso desde el Título "Numa terra sem chão, voa!" hasta el final.
¡¡¡Sublime!!! Me ha encantado.
¡¡¡Gracias, Mil, por ser como eres y estar a mi lado!!!
Abraços e Beijos.
Sonia, tu texto es tierno y triste a la vez. Tierno porque remite al seno materno y el silencio cálido de ese cielo interno. Triste porque expresa el temor a lo desconocido, el nacer puede tratarse de la vida o la muerte, eso es nuestra existencia, Sonia.
ResponderEliminarFeliz domingo!!
Olá,
ResponderEliminartexto criativo com enorme beleza, simplesmente fantástico.
Abraço
ag
Ah! Sónia !
ResponderEliminarComo a tua imaginação voa! Como nos soubeste conduzir ao aconchego do ventre materno...onde se está tão bem... mas lá chegará a hora em que temos mesmo de sair e enfrentar o chão da vida.
Os meus parabéns pelo belo texto tão criativo e poético. Abraços.
M. Emília
OI SONIA!
ResponderEliminarDIZER O QUÊ?
SE TUDO JÁ FOI DITO, REPETIDO E SE ESTE TUDO NÃO É NADA ANTE A BELEZA DE TEU TEXTO?
PARABÉNS AMIGA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Sônia, pareceu-me um belo sonho, ás vezes pendendo para o pesadelo, mas muito bem escrito. Meu beijo.
ResponderEliminarUn texto en el que las dualidades: sueño - vigilia , vida - muerte están presentes.Un texto para reflexionar.Un cálido abrazo.
ResponderEliminarPerdi-me nesta tardia perda, um abandono calmo e apetecido.
ResponderEliminarBeijos
Há pássaros que voam
ResponderEliminarcom os pés no chão
todo o texto é de uma imensa criatividade e uma prosa excelente.
ResponderEliminarfechaste com chave de ouro.
numa terra sem chão voa.
e é isso que está a acontecer.
um beijo
:)
É...é isso que está a acontecer, Piedade.
EliminarQuando nos roubam o chão, devemos imitar os pássaros.
Um beijo
Os meus agradecimentos a todos vós, que por aqui voaram.
O meu abraço
[ Isso é a pura fragrância é exalada.
ResponderEliminarIsso é compaixão.
compaixão é o fenômeno mais elevado.]
lindo.
saudades
Não há nada que tarde em ti Sónia...já voaste...!
ResponderEliminarBeijinhos
Maria
Um belo texto, Sónia. Pura poesia em prosa, em que se define muito bem o momento da enorme fractura provocada por uma decisão que muda o sentido de uma vida. E sempre os pássaros a servirem de moldura metafórica ao sonho!...
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