Os poetas usam saia.
Sejam mulheres, cachopas, gaiatas, miúdas...usam saia.
Curta ou comprida. Usam saia.
Homem, rapaz, badameco, um fedelho - usam saia.
Parvo, sacana, ou a puta do bairro. Usam todos saia.
A saia é o véu - onde escondem a ignorância
Sejam mulheres, cachopas, gaiatas, miúdas...usam saia.
Curta ou comprida. Usam saia.
Homem, rapaz, badameco, um fedelho - usam saia.
Parvo, sacana, ou a puta do bairro. Usam todos saia.
A saia é o véu - onde escondem a ignorância
com que o mundo os olha.
A saia é o abismo - onde escondem a arrogância
A saia é o abismo - onde escondem a arrogância
de se acharem imortais.
Imorais, os poetas usam saia.
Tudo se esconde por debaixo daquela saia.
E a saia é o manto que os torna invisíveis
E a saia é o manto que os torna invisíveis
a qualquer veredicto.
A saia sacode o poema , onde se estendem já mortos,
A saia sacode o poema , onde se estendem já mortos,
sem que ninguém diga " aqui jaz o poeta".
Sem que ninguém se ajoelhe, ou de ternura tombe,
ou de saudade chore!
A saia cobre o sexo do poeta, sempre virgem.
A saia cobre o sexo do poeta, sempre virgem.
Onde todas as noites, pela primeira vez
- uma vez e outra, outra vez e mais uma, há um verbo que o viola.
Violentamente! Em cada palavra, cada vírgula, em todo o poema
- ali sangra, debaixo da saia. Uma vez e todas.
Sangra. E sangra...E ninguém vê.
©Sónia Micaelo
Bom dia:- Não sei se sou poeta. Mas sei que uso calças. Ponto.
ResponderEliminar.
Saudações cordiais
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Boa tarde Sónia,
ResponderEliminarQue poema tão belo, tão diferente, mas que me deixou fascinada pela sua tão elevada inspiração! Um poema de excelência.
Os meus Parabéns!
Beijinhos,
Ailime
A palavra captura o que da saia não se vê e impregna o espírito de realização e consagra-se na manifestação plena da poesia, que latente a habita.
ResponderEliminarE a beleza do seu poema fica também consagrada, Sónia!