nunca saberei se foi a crueldade
ou o medo
a ferir as estações da ausência
inventei verdades de seda
para abrigar o teu silêncio
e bati tantas vezes às portas da tua incerteza
tu medias os anos à alma
e contavas pelos dedos
há quantas vidas a tua boca amarga
seduzia o corpo da solidão
como se fosse uma mulher sem voz
nem rosto
e na invisibilidade da existência
fosse seguro despir-lhe o ombro
tocar-lhe o joelho
ter as coxas da noite a arder na sede
dos lábios
sem ficar irremediavelmente perdido
na escuridão
chamei-te tantas vezes...
como tantas foram as que não ouviste
lias a mesma página de um livro
que há muito escreveste
uma e outra vez
como uma tristeza demorada
permanente
onde a paixão é coisa breve
disfarçada de eternidades
a inscrever num verso roto
nunca saberei
nunca tu saberás...
da loucura
nem das sementes dos meus dedos
na aridez dos teus dias
Sónia Micaelo
*
Arte, Michal Mozolewski
Poeticamente fascinante de ler. Simplesmente sublime
ResponderEliminarFeliz fim de semana
Que belo pulsar da linguagem, Sónia. Como a palavra vai se afirmando na sua capacidade criadora no poema, ainda que o móbile seja a solidão, o vazio, a sombra. Adorei ler-te mais uma vez...
ResponderEliminarUm abraço,
Sónia
ResponderEliminarMesmo sem ler a autora sabia que o poema era teu.
Escreves com alma, sentimento, saudade às vezes quase "raiva" mas sabes "beincar" com as palavras.
Adorei ler-te.
Bom Ano No de 2021
beijinhos
:)
Boa tarde Sónia,
ResponderEliminarGosto tanto de a ler...
É profundamente bela a forma como expressa os seus sentimentos mantendo-se fiel ao que o seu coração guarda e regista.
Muito obrigada pela sua visita. Adorei.
Beijinhos e Bom 2021 com muita saúde.
Ailime
Fabulous blog
ResponderEliminarSussurros me arrepiam, principalmente
ResponderEliminarao pé do ouvido. Um bom hálito, meia
luz e muito hormônio no ar... (risos)
Um beijão e boa tarde.
Muito belo Sónia! Excelente!
ResponderEliminarVivemos sempre na esperança de que tudo se redima, esse "ser-se" no outro, esse "dar-se" e estar tão só nesse medo de ficar perdido na escuridão...
Uma boa semana para ti. Um beijo!
Na complexidade do simples
ResponderEliminaraté ser dia
Sónia,
ResponderEliminar“...lias a mesma página de um livro
que há muito escreveste
uma e outra vez
como uma tristeza demorada
permanente...”
Este trecho do teu poema, representa bem esta fase distópica que o Mundo vive.
Abraços e cuide-se!!!
Parabéns!! Belíssimo poema, escreve muito bem 😊José
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