Cedo descobri:
o ar que existe entre as coisas,
é o que realmente me fascina.
Passo na rua sem ver a rua.
Sei que caminho na rua, porque o ar,
que existe entre a calçada e os meus sapatos,
é frio, vazio...
Eu respiro-o. E sei que vou na rua.
Passo no jardim sem ver as flores.
Mas sei que caminho no jardim.
O ar que vai da flor à borboleta
é leve e morno, uma gentileza à sua breve vida.
Respiro-o. E sei que caminho no jardim.
A multidão é o que mais assusta.
Passo sem ver as pessoas.
Evito tanto olhar para elas,
que nunca chego a conhecê-las.
Nunca sei se o nariz é grande, o cabelo é curto,
ou se têm pés pequenos.
Mas sei do ar que as toca sem que elas saibam.
Respiro-o e quase sufoco.
Quase grito, quase lume, quase dor, quase raiva!...
Não vejo a multidão.
Mas sei que caminho entre ela e afasto-me.
Amo a solidão.
A solidão do ar que existe entre as coisas.
Uma espécie de poema,
que depois que se respira, já não te larga.
Não importa por onde passe,
vou sempre só.
A verdade é que
sempre me bastou o deslumbre
do ar do caminho.
Sem pensar, ou sem saber que, um dia,
isso me levaria a chegar a alguma parte.
Passo por ti sem te ver,
mas sei que por ti passo.
O ar que vai da minha boca à tua
tem a demência do beijo.
Respiro-o. Uma loucura qualquer que se abraça
e me pede para abrir os olhos.
©Sónia Micaelo
📸©Nuno Clavinas
SÔNIA,
ResponderEliminarMEU BLOG ESPANTA DESGRAÇAS!!!
APROVEITE.
MUSICA É FELICIDADE.O FINO
DA BOA MUSICA.FAÇA A SUAGESTÃO DA MUSICA QUE VOCÊ QUISER E COLOCAREMOS LÁ TAMBÉM.
PASSE POR LÁ E XÔ MESMICE TENEBROSA.
UM ABRAÇÃO CARIOCA.
Quanta sensibilidade! O ar como perfeita comunicação e entendimento. Um respirar que afasta o negativo e que distingue, sem qualquer dúvida, um precioso encontro. Já não é mais caminho, mas chegada. Amei! Bjs.
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